Não acredito propriamente em inspiração. Acredito mesmo é em perseverança. Não escrevo todos os dias. Há períodos em que faço apenas pesquisas, leituras, anotações e rabiscos, ou fico recriando as histórias mentalmente para confrontá-las com o que já está posto no papel, por exemplo, mas quando me vejo sentado diante do computador para escrever, não posso me dar ao luxo de ficar parado. Não existe “deu branco”.
O que costumo fazer é começar a escrever qualquer coisa, literalmente. Vou colocando frases no papel, alguns diálogos prontos, algumas partes de livros que são marcantes para mim e em algum momento é como se eu encontrasse a pontinha da fita adesiva que estava escondida. E aí é só puxar que o resto vem bem fácil.
Mas as histórias brotam mesmo em situações muito específicas, sempre quando estou perto ou vejo um dos dois lugares que mais marcaram minha infância. Esses lugares me permite acessar memórias importantes e é daí que surgem as histórias que costumo escrever.
O primeiro desses lugares é a casa onde nasci e vivi até os 5 anos, no Rio Vermelho, em Salvador. Meus avós viveram lá até eu ter mais de 30, e meus pais ainda voltaram a morar na mesmíssima casa alguns anos depois. Tenho memórias muito vivas desta época, aventuras únicas, e há personagens, situações e diálogos das minhas histórias que têm sua origem nesta janela onde estou sentado ao lado dos meus dois irmãos.
Infelizmente a casa do Rio Vermelho não existe mais. Foi transformada numa empresa de qualquer coisa sem a menor importância.
O segundo lugar é o Recreio 4 Irmãos. A casa na Ilha de Itaparica, na Bahia, onde passei infinitos veraneios e feriados. É o berço da nossa família. Não há nenhum amigo meu de verdade que não tenha conhecido a praia de Amoreiras.
Essa fagulha é bem comum na história de escritores consagrados, o que me faz pensar que estou no caminho certo kkk. O que se conta é que Marcel Proust começou sua série Em Busca do Tempo Perdido ao sentir o cheiro das madeleine, o que o remeteu à sua infância instantaneamente. O fato é referenciado na cena do filme Ratatuile, da Disney/Pixar, quando o crítico gastronômico sente o cheiro da comida que o joga repentinamente para a cozinha da sua mãe e se vê criança novamente. Bem, vocês pegaram a ideia.
E pra você? Qual a fonte da suas histórias? De onde elas surgem?