Eu escrevo desde sempre, e meu nascimento como escritor tem uma certidão que resiste ao tempo. Aos 9 anos, coloquei em 5 folhas de caderno, escrita a lápis, a história O Mistério da Lagoa. Meu primeiro livro. No futuro falaremos mais sobre ele.
Primeira página do primeiro capítulo. É como uma certidão de nascimento de um escritor. Um dos poucos registros que ainda tenho de um período de muita produção crua, verdadeira e original.
Os quadrinhos desenhados por mim no fim da infância, as poesias na adolescência e os contos e crônicas como jovem adulto são o rastro que foi deixando por aí. Toda essa produção é efeito colateral da minha existência. Eu nunca soube como seria viver em escrever, por isso escrevia.
Aí muita coisa aconteceu. Perdi a vida que eu tinha, ganhei uma nova chance e neste renascimento terminei sufocando as histórias que saiam de mim. E foi bem na época em que conheci Rainer Maria Rilke e suas Cartas a um Jovem Poeta.
“Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples “Preciso”, então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso.”
RILKE, 17 de fevereiro de 1093
Cartas a Um Jovem Poeta
Foi Rilke quem manteve o escritor vivo dentro de mim, embora eu tivesse parado de escrever. A minha resposta foi afirmativa, mas os traumas eram fortes demais para que eu voltasse a me abrir. Foram quase 10 anos sem por nenhuma palavra no papel, até o nascimento do meu primeiro filho. Nascia então um pai e renascia um escritor. Três anos de produção de crônicas frequentes para um blog, mas que não resistiu às atribulações do dia a dia, do trabalho, da vida adulta… e aí parei de novo. Precisei de mais uns 5 anos para achar a pontinha do novelo da escrita novamente… e aí a história foi outra.
Existem muitos escritores por aí. Alguns que produzem mais, com mais frequência. Outros ainda tímidos, que mostram-se pouco, mas que carregam um universo dentro de si. Mas para toda essa turma, da qual faço parte, há um salto difícil: tornar-se um autor.
O ponto aqui não é a semântica apenas. É uma questão de princípio e propósito. Todo autor é um escritor, no fim das contas, mas tornar-se autor, na maioria das vezes, é uma jornada desafiadora para qualquer escritor e a maioria de nós jamais chega lá.
Etapa final da revisão do meu primeiro livro publicado, com ilustrações da queridíssima Carol Ito, que será lançado em Abril de 2019.
Contarei por aqui alguns capítulos desta minha jornada. De como foi minha descoberta, minha preparação, minhas falhas, meus processos e inspirações até o momento em que tive coragem de me apresentar oficialmente como autor.