Separar, organizar, decompor, agrupar, categorizar e analisar são ações primordiais para qualquer um que trabalhe com conteúdo e informação. E todas essas ações resultam, dentro da estratégia de conteúdo para UX, no que chamamos de taxonomia.
A palavra não deve ser estranha para qualquer um que tenha prestado um pouco de atenção nas aulas do ensino médio. Lembra de reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie? Essa é uma das formas que temos para categorizar a vida no nosso planeta. Em resumo, seres vivos semelhantes formam uma espécie, espécies semelhantes foram gênero, gênero semelhantes formam uma família e assim por diante.
Aplicando taxonomia ao conteúdo
No primeiro post da série eu falei sobre o Content Strategy Quad, um framework de trabalho para estratégia de conteúdo desenhado pela Brain Traffic. Um dos quatro pilares desse framework é a “estrutura” do conteúdo, e a taxonomia nos projetos de UX busca exatamente estruturar o conteúdo da melhor maneira possível.
Comecei a pensar nesse tipo de coisa na época da faculdade de jornalismo. Eu ficava intrigado em como uma notícia sobre desvio de verba numa obra da Copa do Mundo era publicada na editoria de Esportes e não em Brasil, por exemplo. Pensava também como poderia existir uma editoria “Brasil” e uma editoria “Política”. Como separar uma coisa da outra? E por que notícias sobre roubos e assassinatos são na editoria de “Polícia” e não em “Cidades”?
“editorias de jornais e seções de sites são composições de conteúdos de uma determinada categoria”
Isso acontece porque as editorias de jornais e seções de sites são composições de conteúdos de uma determinada categoria: esse conteúdo tem características próprias e, de acordo com essas características combinadas, é agrupado com semelhantes. Olha a taxonomia aí, tá acompanhando?
Mas como agrupar o conteúdo e criar categorias?

O primeiro passo é analisar. Ter uma visão geral sobre o todo e depois começar o processo de decomposição. Pegue um fato, um conteúdo ou um ser vivo, divida-o em partes, e depois identifique seus componentes. Do mesmo jeito que Carolus Linnaeus fez com os bichinhos do nosso planeta, observe agora os componentes que se repetem e os que são singulares e rotule todos eles.
Depois de rotular todos os componentes, você pode brincar de agrupá-los de acordo com esses rótulos. Por tipo, por tamanho, por cor, por mídia, por fabricante, por região, por idioma, por função, por público-alvo… existem muitas formas de agrupar conteúdo. Depois de agrupados você deve batizar esses grupos, ou seja, classificá-los.
“É preciso ter um pouco de empatia para criar uma interface e para categorizar o conteúdo.”
O engraçado é que, enquanto homo sapiens, somos muito bons nessa história de relacionar as coisas e procurar padrões. Estamos bem acostumados a abstrair e classificar todo tipo de coisa, inclusive o conteúdo. É assim nas páginas amarelas da lista telefônica, ou no menu de navegação do Mercado Livre. Era assim nos mecanismos de busca antigos, como Yahoo e Cadê, ou nos mais novos, como o Google (embora os parâmetros de classificação e agrupamento nesses dois casos sejam bem diferentes). É assim nos jornais e revistas e é assim em 99% dos websites. Cada coisa tem seu lugar, certo? Mais ou menos. O grande problema desse processo de taxonomia na internet é que ela é feita de forma arbitrária. É preciso ter um pouco de empatia para criar uma interface e para categorizar o conteúdo.

Colocar-se no lugar do outro, focar no usuário final é o primeiro passo para organizar as informações. A categoria tem que ser ampla, agregadora, mas precisa ser compreensível. Por exemplo, o que você acha que vai encontrar numa seção de site chamada “Variedades”? Ou numa categoria de blog chamada “Outros”? Complicado, né?
O segundo passo é pensar de forma estratégica essa definição. Além de clara e agregadora, a categoria precisa ser interessante. É preciso pensar em como o usuário conhece determinado serviço ou produto. Qual o nome é utilizado para citar esse serviço ou produto? Qual a chance dele clicar em determinado item do menu chamado “Suporte” se ele está com um problema de uso de uma plataforma? E se, no lugar de “Central de Suporte”, estiver escrito “Centro de Experts”?
Mas você não precisa fazer isso sozinho e nem precisa fazer isso de qualquer forma. Uma dica da Kristina Halvorson, no livro Estratégia de Conteúdo para Web, é “pergar emprestado” a taxonomia inteligente, intuitiva e já funcional dos seus concorrentes e similares, que tal? Já seria um começo. Você pode também buscar metodologias e dinâmicas de grupo que vão te dar uma visão mais plural a respeito do seu conteúdo.
Card sorting: em busca de uma metodologia
Já pensou em pedir para outras pessoas organizarem suas cosias? Como elas agrupariam? Que nomes elas dariam a cada grupo? Card sorting é uma metodologia de UX na qual participantes convidados organizam tópicos ou assuntos em categorias que façam sentido para eles. Usando papel e caneta (ou post-it), você pode resolver problemas e ter muitos insights com uma dinâmica muito simples. Mas isso fica para a parte 3 dessa série, ok?
Leia o primeiro post: https://bitoteles.com/2015/07/24/estrategia-de-conteudo-nos-projetos-de-ux-parte-1/